ENTREVISTAS

EM CARAGUÁ
Burihan faz história


o inicio nos anos 70 Serginho ajudou a popularizar o surf em Caraguá

Por Luciano Sant'anna
Burihan aprendeu lições com os lugares e pessoas que conheceu. Foto: Arquivo pessoal.
Sérgio Burihan, sócio-fundador e primeiro presidente da A.S.C., Associação de Surf de Caraguatatuba (SP), professor universitário e de educação física, Burihan ou simplesmente "Serginho", conta como o surf começou em sua vida, além de ter servido de base para ajudar a fazer dele a pessoa carismática que é hoje.
Mesmo longe da Associação, ele foi um dos principais responsáveis pela existência da entidade.
Aos 47 anos ele não para de surfar e jogar capoeira.



amigo das antigas Edson "Bola" e o filho Tiaguinho Burihan reencontro em massagfuaçú quase 30 anos depois.

                                                  

Como foi o seu primeiro contato com o surf e quando isso aconteceu?
Foi de forma natural, como todo menino criado na praia pegando jacaré e mergulhando na costeira, até que um dia apareceu na Martim de Sá, um pranchão com o João Luís, irmão do tcha tcha e o Marcos Carioca, foi a maior farra.Desde então, não desgrudamos mais da parafina! Isso na década de setenta, em setenta e cinco se não me engano. Aí chegaram em Caraguá uns figuras que deram o maior gás no surf local. O Zé Carlos, o Carioquinha, o Duda, seu irmão Zeca Baianinho e Rui Noronha, junto com os que já eram daqui, como Marcão, Bilão, Nê, Flavinho e os irmãos Oliveira: Mauro, Marquinhos e Marcelo. O Vavá e mais um monte de gente que a água salgada me fez esquecer.



Foi numa época muito difícil ser surfista para sociedade?

Prefiro falar das coisas boas, das coisas que realmente influenciaram na minha vida, como as viagens e o contato com a natureza, que formaram minha personalidade e a busca por novos desafios e novas culturas.
Aprendi muito com os lugares e as pessoas. Minha família sempre me deu a certeza dos caminhos a seguir, e dentro das possibilidades sempre me apoiaram.Minha mãe dona Maria, minha esposa Marlene, meus irmãos Salim e Shirley, sempre se empenharam para que eu tivesse uma cabeça boa. Agradeço a todos!


Burihan recebendo o prêmio do campeonato do Derly que foi disputado com 2 metros de onda na pria grande em ubatuba - festa de preiação em frente da antiga loja Imagem atrás do Banespa/Santander

Você também competiu? Chegou a ganhar algum campeonato?
Sim. Tirei até bons resultados, ganhando uma etapa local dos campeonatos do Derly e boas participações no paulista e nacional, que aconteciam por aqui. A melhor apresentação foi em um mar gigante no nacional de Ubatuba na Praia Grande, onde fui passando, passando e cheguei ao homem a homem, mas perdi para o campeão Ricardo Toledo.Havia mais de duzentos surfistas inscritos e vários nem sequer saíram do carro, com medo do tamanho das ondas. Fiquei entre os doze e ganhei vários elogios, conquistando o respeito da rapaziada e da comunidade do surf.



Serginho sempre surfando

Você chegou a viajar muito para surfar? Qual foi o maior e mais perfeito mar que você surfou?

Surfei graças a Deus nos picos mais clássicos do Brasil, de norte a sul, numa época que você caia ou sozinho ou só com mais um ou dois.
Surfei na Guarda, Felix, Itaúna, Itamambuca, Maresias, Silveira, Cacimba do Padre, onde tirei o melhor tubo de minha vida até agora. Surfei várias ondas mar afora. Peru, Chile e Panamá. As maiores? Aí a coisa pega. Umas massas d'água no Cardoso, no Farol de Santa Marta que parecia Sunset. Grande mesmo. E o pior foi que surfei de biquilha 5,9.
A segunda e destemida vez que surfei no Peru, junto do local Paco,fiquei quarenta e cinco minutos sentado no outside de Pico Alto, até que ele chegou ao meu lado me deu um tranco e falou: Ei Sergio, você consegue, vai! Ontem surfamos num mar mais perigoso que este, Kontik, 10 pés, e você segurou legal, vai!
Rapaz, tive meu momento de alegria, mas durou pouco! Foi só durante um final de tarde, mas foi mágico! No dia seguinte tive que passar numas oficinas de capoeira num grupo em Lima e seguir viagem para o Brasil.



da esq/dir. Burihan, Ruy Noronha, gilmar moliterno e Fabio possa equipe imagem anos 80

Como surgiu a idéia de fundar a A.S.C. e quem foram as pessoas envolvidas na época?

Precisávamos unir todo mundo para melhorar as condições de surf daqui. A rapaziada até que fazia alguma coisa, mas cada um para si e a A.S.C. veio com a proposta de unir os sonhos e ideais.
Não gostaria de falar de nomes para não correr o risco de esquecer alguém, mas eram as pessoas que sempre estiveram à frente do surf de Caraguá. E uns que sempre ficaram à sombra também. Explorando e ganhando fama sem nunca ter feito por espírito, mas sim por outras razões.



Buriahn entregando uma placa homenagiando o prefeito José Bourabebi pelo apoio ao surf durante a cerimônia de fundação da ASC



Você se arrepende de ter deixado a diretoria da A.S.C.?

Nunca! Cada um tem seu tempo! Acredito ter dado a minha contribuição para o surf local, poderia ter feito mais, mas continuo aí ajudando como posso.

Depois de um período você se envolveu com a capoeira, como isso aconteceu? Você parou de surfar?

Não, nunca parei de surfar. A capoeira foi outra paixão que me tomou muito tempo, me dedico demais a ela, mas em frente à sede do meu grupo na Bahia, em Arembepe rolam altos picos de fundo de coral e parte do meu quiver esta lá, sempre pronto para uma caída show com ondas rápidas e tubulares também.
Conheci a capoeira ainda menino na beira do mar. Depois com o tempo fui deixando me levar pelos encantos do berimbau e hoje estou aí.

Você chegou a virar mestre de capoeira?

No meu grupo, o mestre se chama Lua de Bobo, tem cinqüenta anos de capoeira. Eu sou apenas um de seus segundos, a coisa é séria lá. Já tenho mais de vinte anos de prática.

E a faculdade, o que te levou a fazer educação física?

O surf e a capoeira. A minha vida toda e a minha caminhada, levaram-me a chegar onde cheguei. Os erros e os acertos deixaram-me estes legados.
Com certeza isso fez com que você crescesse pessoalmente e profissionalmente.


Burihan se apaixonou peolo birimbau


Você acha que o surf e a capoeira te motivaram a isso?

Demais, pois foram determinantes na minha formação pessoal e não poderia ser diferente na minha vida profissional. Até tentei me aventurar em outras praias, mas o esporte e a cultura bateram mais fortes.

Como você vê o processo de ensino e aprendizagem do surf, um esporte tão marginalizado no passado e que hoje é até disciplina no currículo escolar e universitário? O esporte massificou-se e tem muita gente ensinando surf sem formação e qualificação, tanto em escolas, como aulas particulares. Por quê você acha que isso aconteceu?

Acredito que seja resultado da gana do ser humano. É natural que isto aconteça, onde ele vê possibilidade de ganhar lucros, ele investe. A mídia tem sua parcela de culpa, mas ela apenas reflete e alimenta esta ambição.
O surf tornou-se um esporte profissional e de forte valor saudável e estético, não poderia ser diferente, todo mundo quer viver na praia e ainda mais, num país com ótimo clima e boas ondas.
Na maioria das vezes, o surf torna-se um único trampolim para aqueles menos providos de possibilidades sociais, que se agarram nele a todo custo.


Você acha que essas pessoas precisam de formação e qualificação?

Tenho lá minhas dúvidas quanto a isto. Não sei porque! Ainda não estou convencido disto não. Acredito em uma fusão dos trabalhos científicos e naturais.

Você acha que o surf tem tido o seu devido respeito como outros esportes, ou ainda falta mais apoio, tanto do poder público como da iniciativa privada, principalmente daqueles que vendem e exploram os produtos e serviços do surf?

Sempre vai faltar apoio ao esporte e a educação, sempre será pouco o desempenho da iniciativa pública e principalmente da privada. É o que eu disse, eles sempre ficaram na sombra, aproveitando a maré!
Isto perdura e faz escola, que é o pior. Mas tem gente boa também não podemos generalizar, a galera do espírito do surf, sabemos que fazem por amor.

Você acha que existe ainda algum preconceito quanto ao esporte na cidade?

Não gosto da palavra não. Também acredito que não seja só com o surf, isto é mais uma questão de cultura do povo local. Investir pouco, visão pequena com relação aos projetos, e também mostra a carência de bons projetos para se investir.


O que você acha que deve ser feito para melhorar o surf caraguatatubense?

A galera surfar mais! Parece bobeira, mas a galera é muito sossegada também. Correr mais em busca de boas ondas e bons resultados, sem falar na possibilidade de um circuito mais integrado com as outras cidades, como São Sebastião e Ubatuba, além da já tradicional cobrança de apoio aos homens do cacau.

Como você analisa o trabalho da A.S.C. desde a fundação?

Penso sempre que as pessoas se doaram da melhor maneira que puderam, vendo que ninguém ganhou mais que as marcas durante estes tempos.
Pessoas que trabalharam e trabalham para o surf, quase sempre continuaram ou continuam na mesma. Fazendo por amor e sonho de água salgada, levando em consideração que a cidade não possui tantos points de surf constantes.
Acho que está bom demais o que foi feito pela galera toda, pois tem muita gente surfando em Caraguá.

Você tem surfado ainda, ou está só ensinando os filhos?
Brurihan brincando com os filhos na praia e ensinando surf para próxima geração.

Tenho sim, até mais que eu esperava para o momento! Todas as quartas-feiras e aos finais de semana, quando posso levar o meu filho Tiago, que está amarradão com o surf. Ele gosta muito de futebol também, como todo bom brasileiro.Tenho também a princesinha Gabriela que ama o mar também, aliás, a razão de eu voltar pra beira da praia. Estou dando a eles esta possibilidade linda de morar próximo ao mar.

Mande um recado para as novas gerações do surf.

Estudem e trabalhem com dedicação e humildade, lembre-se que aqueles velhos e carecas que vocês encontram de vez em quando no outside foram os caras que abriram caminho para que vocês pudessem remar em paz e livremente em direção aos mais radicais de seus drops, e olha só, o planeta precisa de vocês!

Cuide de nosso meio ambiente!

Boas ondas, paz e amor!




ao centro julgando o 1º surf treino da ASC 1989 na PG Ubatuba